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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PERSONALIDADES DA MODA - LAÍS PARSON
Blog http://alllingerie.com.br/lais-pearson-de-bailarina-a-expert-em-industria-textil-e-referencia-no-jornalismo-de-moda-brasileiro/

Dos seus 86 anos de idade, Laís Person, ou Dona Laís como carinhosamente costumam se referir a ela os colegas, dedicou mais da metade à indústria têxtil e à comunicação de moda. Conhecida entre os jornalistas e habituées das semanas de moda nacionais, à primeira vista poucos conseguem ter noção do tamanho e variedade de sua experiência na área, ou do por que aquela senhorinha, embora simpática e bem vestida, nem sempre recebe um assento na Fila A do desfile. De qualquer forma, ela já estampou editorial de revista ao lado de uma modelo 60 anos mais nova, e ainda hoje recebe telefonemas “inesperados”, como aquele que a levou a caminhar em uma passarela durante desfile do estilista mineiro Ronaldo Fraga, ou mesmo o que nos permitiu marcar uma conversa no sofá de sua sala – adornada com quadros de família, uma pintura da própria Laís ainda jovem ao lado e suas duas filhas – onde um companheiro felino acompanha o bate papo entre cochilos e ronronados junto ao microfone.
Apesar do sobrenome escocês herdado do marido, Laís Pearson, é “brasileira, paulista e paulistana”, assim faz questão de frisar. Nascida numa tradicional família da sociedade paulistana na década de 30, desde muito cedo travou contato com a moda. Lembra que frequentava desfiles em viagens a Paris com a mãe. “Mamãe era uma dondoca”, diz olhando para o quadro da dama de estilo impecável sobre o aparador da sala, “aqui em São Paulo gostava de se vestir com o Dener, lá em Paris recebia convites para vários desfiles e fazia questão de me arrastar com ela”. Os hábitos da mãe lhe proporcionaram, entre outras coisas, assistir de perto ao lançamento do New Look de Christian Dior.
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Mas naquela época sua paixão e principal ocupação era o balé, e sua história com a moda e a indústria têxtil emplacou mesmo mais tarde, e de forma inusitada. De volta ao Brasil, leu no jornal um anúncio em inglês requisitando um fashion coordinator. Ela não tinha ideia do quê se tratava o ofício, mas achava que entendia de moda e respondeu ao classificado. Surpreendentemente, foi chamada para o trabalho na indústria têxtil Lurex, especializada em uma nova tecnologia de tecidos com fios metálicos. Ali constatou que seus patrões também não tinham muita certeza sobre as funções de um coordenador de moda, pois acabou colocada para traduzir boletins técnicos industriais, até que profissionais recomendados viessem da Inglaterra oferecer-lhe treinamento adequado em funções específicas.
Para uma jovem cujas referências de moda eram passarelas internacionais ou as roupas que a mãe e a avó encomendavam da Galerie Lafayette, os boletins industriais constituíam um desafio e uma grande responsabilidade, mas também um aprendizado intenso sobre o universo das fábricas e seu maquinário, compostos químicos, fios e tipos de tecidos. Enquanto trabalhou na Lurex e, posteriormente em outras empresas do setor, Laís viu a indústria têxtil nacional florescer. “Nessa época despontaram grandes indústrias, com produtos de altíssimo padrão, como a Abril e a Werner”, garante ela. Infelizmente, também acabou por assistir seu processo de fechamento. “Hoje assistimos ao encolhimento do setor, nos tornarmos meros produtores de jeans”, lamenta.
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Com toda essa experiência em indústria, não tardou para que Laís fosse solicitada a comunicar e dividir seus conhecimentos técnicos e de estilo. Passou a escrever para o Guia Oficial da Moda Brasileira e a pesquisar as tendências da indústria e da moda na Europa. Criou seu próprio caderno de moda sob o sugestivo nome de Trends, e se tornou uma correspondente da International Textiles, então a mais importante publicação do setor em todo o mundo.
Frequentou desde o início eventos como as feiras de confecções Fenit e Fenatec. Caio de Alcântara Machado foi para ela um dos grandes incentivadores da moda brasileira . Muito tempo depois, viu nascer o São Paulo Fashion Week. “As novas gerações tendem a imaginar que a moda no Brasil começou com os eventos do Paulo Borges, mas ela já existia antes”, brinca Lais, “houve iniciativas anteriores de muito sucesso, e estilistas como Valentino, Vivienne Westwood e Castelbajac estiveram por aqui nesses eventos”. Segundo ela, naquela época não se falava em moda, mas sim em roupa; também não se falava em grifes, mas em confecções. “Também não se usavam termos pomposos, como Calendário Oficial ou Semana de Moda, mas já havia tudo ali, não há tanta novidade!”. Além disso, destaca que, apesar do espetáculo impressionante que pode ser um desfile hoje, é preciso lembrar que moda é para se vestir, e que ela é bem sucedida quando seu aspecto comercial é bem sucedido, “então a função do desfile seria vender a roupa, mas atualmente ele só parece vender imagem”.
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Sobre o mercado de lingerie, Laís considera que o setor passou por uma grande transformação na qual a roupa de baixo deixou de ser, necessariamente, de baixo. “A mulher deixou de considerar a lingerie algo que se usa escondido, existe uma preocupação maior da consumidora em estabelecer combinações e, por parte das confecções, uma nova relação a se estabelecer com as tendências de moda”, explica Dona Laís. Considerando-se a diversidade de modelos, materiais , cores e estampas, qualquer escolha precisa ser mais consciente: “Importante é saber associar conforto e estilo. Essa é a dica!”
Perguntada se pensa em parar, Dona Laís garante: “Estou sempre em contato com o setor de moda. De vez em quando ainda escrevo algumas colaborações. Não me considero aposentada.”
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