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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Moda e Consumo:

Reflexões – A moda como objeto de estudo

Atualmente vivemos a Era do Consumo. A contemporaneidade é marcada fundamentalmente pelas relações entre indivíduo, sociedade, signos e mercadorias. A nossa relação com os objetos hoje é fruto da mudança dos valores funcionais para valores de signo, ou seja, a funcionalidade do objeto fica em segundo plano, nos interessa, no entanto, o que ele representa. A moda é muito importante nesta dinâmica porque funciona como um sistema. Muito mais do que lindos rostos na TV ou vitrines luxuosas, a moda participa do cotidiano de todos os indivíduos, de forma contundente e de maneira a guiar-lhes todos os passos: alimentação, cultura, saúde entre outros.
O ciclo de vida dos produtos é cada vez menor; na moda isso é expressão máxima. Hoje procuramos o novo a todo o momento e a qualquer custo, dessa forma, a moda, caracterizada pelo ciclo efêmero de vida de produtos, torna-se categoria cultural e também objeto de estudo de filósofos e sociólogos.
Nas últimas décadas, principalmente com a contribuição de Gilles Lipovetsky, o assunto moda foi elevado à categoria nobre de objeto de estudo, a partir do momento que sua dinâmica passa a ser interessante também para as outras indústrias de consumo.
Para entender a dinâmica da sociedade de consumo, Jean Baudrillard consagra o conceito degadget: “por trás de cada objeto real há o objeto sonhado” diz Baudrillard. Gadget é a dinâmica que põe em cena o esgotamento do valor instrumental do objeto, realça seu esplendor e seu valor de signo. Hoje, o que guia nossos pensamentos é a subjetividade, sonhamos em ter uma linda peça de roupa, em jantar em um restaurante bacana, o que comanda são produtos/signos que nos completam, são almejados, procurados e sonhados: objetos que não têm significados em termos de matéria e função, mas sim na subjetividade e associações dos signos. São estes os produtos que consumimos hoje, os signos.
Moda e Consumo: Reflexões A moda como objeto de estudo
Manish Arora as part of his Spring/Summer 2016
As imagens do estilista indiano Manish Arora que ilustram este texto trazem essa atmosfera de sonho, criam momentos mágicos e teatrais. Poderíamos dizer que é nesta atmosfera irreal que os desejos dos consumidores flutuam, seja nas lojas, na internet, dentro de suas próprias casas, nas ruas, nas relações com amigos e família.
Day Dream é o conceito que o autor Colin Campbell trabalha em seu livro A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno é o sonhar acordado, é a constante espera de emoções, é a ansiedade permanente, são os indivíduos diante da TV ou diante de uma vitrine na rua aguardando que algum milagre aconteça e que todas as maravilhas em forma de signos venham significar algo de realmente relevante em suas vidas. Somos todos, na verdade, indivíduos frustrados. À medida que colocamos nossas emoções nos produtos de consumo, conquistamos uma felicidade efêmera: ao comprá-lo estamos felizes, mas logo precisamos comprar novos produtos/objetos/signos, pois os nossos já são obsoletos.
Sonhamos acordados e participamos de uma dinâmica tão engajada no nosso cotidiano que às vezes nem percebemos todo este movimento mental x real. Como diz Colin Campbell “quanto mais hábil o indivíduo é como um artista do sonho, tanto maior será, provavelmente, então, este elemento de desencanto”. Veja também: Por que consumo só, não sacia? O desejo e a busca de significado em...
A mídia faz a conexão desta dinâmica. A TV é a janela invertida, traz o mundo ao nosso lar. “Através da mídia, da propaganda, o significado tem autonomia, e os signos estão livres de vinculação com os objetos particulares e aptos a serem usados em associações múltiplas”, diz Baudrillard.
Este cenário se apresenta como um enorme desafio para qualquer produto ou serviço que seja lançado e oferecido aos consumidores. As características incertas e subjetivas são os pilares que o estilista de moda deverá estar atento.
Dentro desta perspectiva, o trabalho das empresas de Cool Hunting, que fazem o reconhecimento de padrões de comportamento, é muito procurado na atualidade. São empresas-observatórios que oferecem informações preciosas sobre os potenciais compradores de moda ou qualquer outro tipo de produto/serviço, trabalhando sempre para descobrir o novo, mas este será o assunto para o próximo post.
Jean Baudrillard em Sociedade de Consumo diz que não compramos objetos para possuí-los e sim para destruí-los. A cada nova compra já estamos pensando na próxima. A efemeridade da moda acaba funcionando como antídoto para curar a ansiedade e saciar em pequenas porções a sede de emoções. A cada semana, uma nova coleção na vitrine, a cada dia um novo capítulo na novela das oito, a cada seis meses a nova versão do carro do ano, um novo restaurante imperdível é inaugurado. Somos todos, então, atores no “teatro” do consumo.
Fontes e links:
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70, 1981
CAMPBELL, Colin. A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
Por Alessandra Gimenez
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Maninsh Arora
Fontes e links:
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70, 1981
CAMPBELL, Colin. A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
Publicação: 7 de julho de 2009 – Atualizado em 24 de Agosto de 2016
Por Alessandra Gimenez