A nova moda na Suécia é a Sustentabilidade
- Redes de lojas de segunda-mão do país transformam consumo consciente em tendência - Por Isi de Paula
Ao pensar em moda sueca, muitos vão pensar em gigantes da fast fashion como H&M e KappAhl. O que talvez poucos saibam é que ganha cada vez mais força no país uma tendência que pode ser a chave para mudar a realidade atual da indústria da moda: o comércio de segunda-mão. Desde grandes redes de lojas até os pequenos brechós e mercados de pulgas entram cada vez mais na rota de compras dos suecos, fazendo a diferença não só no bolso, mas também no estilo do consumidor. E o mais importante: com esse hábito, uma grande quantidade de roupas ganha nova vida em vez de ser descartada no meio-ambiente.
Apesar de vender todo tipo de objetos, desde móveis a livros, passando por objetos de decoração, discos e brinquedos, foi com a moda que a Myrorna conseguiu cativar um público fiel. O site oficial e redes sociais da loja são majoritariamente voltados para a venda de artigos de moda, com campanhas que incentivam o consumo consciente de roupas, ao mesmo tempo em que oferecem dicas de estilo. Um exemplo de sucesso é a campanha “Ative o seu guarda-roupa”, uma série de aulas nas quais o cliente aprende a evitar aquele armário cheio de peças encostadas. “São atividades que criamos para influenciar o comportamento do consumidor e estimular um consumo de moda mais sustentável”, explica Lotta Kökeritz, assessora da Myrorna. “Mas também fazemos campanhas para aumentar as vendas na loja e atrair novos públicos”. Essa predileção por moda faz muito sentido se analisarmos o impacto negativo que o consumo de roupas tem no meio-ambiente, comparado a outros tipos de produtos. Segundo Kökertiz, são necessários 10 mil litros de água e cerca de 6 kg de pesticida para produzir apenas 1 kg de algodão, por exemplo.
De fato, nas ruas não é difícil diferenciar os consumidores de segunda-mão, ostentando peças que estiveram em alta há anos, entre aqueles que simplesmente repetem o que se vê nas vitrines a cada estação. Pois não é que a realidade de consumo na Suécia tenha chegado ao seu ideal. Grande parte dos herdeiros da filosofia Ikea (comprar barato e com muita frequência) seguem religiosamente as tendências, o que transforma o país em um dos mais consumistas do mundo – décimo lugar no ranking no último relatório ambiental feito pela WWF, em 2014. Para se ter uma ideia do quanto a moda influencia no excesso de consumo no país: a cada ano um sueco compra em média 12,5 quilos de roupa, dos quais oito vão para o lixo. Mas a onda de slow fashion e consumo consciente cresce cada vez mais no mundo, e na Suécia não seria diferente. Aqui, o mercado de segunda-mão vem abrindo novas possibilidades ao oferecer ao consumidor uma válvula de escape para os seus impulsos consumistas, combinando o desejo de comprar ao prazer de contribuir para um mundo mais sustentável.
Esse artigo foi produzido em colaboração com a jornalista Isi de Paula, residente na Suécia e fã de brechós.