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sexta-feira, 19 de maio de 2017

As novas musas do street style são filipinas

Pinay power: conheça uma nova geração de mulheres que está roubando a cena e chamando a atenção para sua cultura local. 

Por Luigi Torre

Ao longo dos anos, vimos a moda se apaixonar pelas Harajuku girls japonesas, pelas estrelas sul-coreanas do K-Pop e pela ávida consumidora de luxo chinesa. Agora, a menina dos olhos fica mais ao sul do Pacífco, tem perfil mais low profile e se tornou referência do street style internacional atual. Chegou a hora das flipinas, ou pinay girls, como são conhecidas.
A designer de joias Annette Lasala Spillane (Instagram/Divulgação)
“Por não sermos uma capital de moda, é natural essa sensação de surpresa”, diz Annette Lasala Spillane, designer de joias por trás da Tara (Te Artisan Row Accessories). “Mas nossas mulheres sempre gostaram de se arrumar. Faz parte da nossa tradição.” Foi até por isso que Annette decidiu se dedicar à joalheira. “Existe uma afinidade com as joias correndo em nosso sangue. É um verdadeiro ritual emocional.”
O guarda-roupa da designer diz muito sobre o estilo das pinay de hoje. Composto de clássicos da moda ocidental, tem nos detalhes manuais e nos acessórios carregados de elementos regionais seu principal traço de identidade. “Temos uma aptidão única para a extravagância, mas de maneira muito polida”, afirma. O que pode ser explicado pelos 300 anos de colonização espanhola e outros 50 de domínio norte-americano, resultando numa mistura única de tradição e rigor conservador com a liberdade e excessos da cultura pop. O olhar para dentro, porém, é quase uma novidade. “Num mundo superconectado, é preciso encontrar o que nos faz realmente únicos. Aos poucos, nós, flipinos, estamos percebendo que nossas raízes são o que nos torna especiais”, diz Annette.
É mais ou menos por aí que caminha o trabalho das gêmeas Stacy e Danah Gutierrez. Juntas, elas se tornaram uma das principais defensoras da diversidade física e racial por meio da revista digital Plump. “Somos uma sociedade muito ocidental, regida pelos padrões de beleza ocidentais”, aponta Danah. “Você vê por toda parte campanhas para emagrecimento e clareamento de pele e cabelo”, continua. “Isso significa que as mulheres são pressionadas a ser magras e brancas. Nossa luta começou quando decidimos discutir esses problemas socioculturais. Queremos falar para nossas amigas flipinas que é ok ter pele escura e curvas”, pontua Stacy. Em outras palavras, trata-se de empoderar e liberar a mulher pinay por meio da roupa, da aparência e do comportamento.
A DJ King Marie (Instagram/Divulgação)
A batalha começa pelo que a dupla escolhe para colocar no corpo. “Agora mesmo estou usando um barong (uma espécie de camisa bordada tradicional das Filipinas) customizado por mim, sapatos de Yakan (tecido tramado típico de uma tribo indígena local) e braceletes de madeira feitos a mão”, revela Danah, dona de um closet cheio de peças clássicas e acessórios statement.
Stacy também prefere marcas locais quando sabe que será fotografada em eventos e semanas de moda. “Cada vez mais, sinto os filipinos querendo expressar sua identidade e seu estilo por meio da arte e da moda”, diz ela, a mais ousada da dupla, com várias extensões no cabelo, make de fazer cair o queixo e roupas que passam longe do básico.
A it-girl e editora de moda Liz Uy (Instagram/Divulgação)
Queridinha dos principais fotógrafos de street style, Liz Uy é outra forte expoente da atual geração de fashionistas pinay. Ex-editora da Esquire Philippines, stylist de celebridades asiáticas, curadora digital da revista Style Singapore e estrela do reality show It Girls, do canal E! Asia, faz das diversas plataformas em que atua uma espécie de amplifcador cultural de seu país de origem.
“Acredito ter uma oportunidade incrível de abrir os olhos dos meus seguidores para a nossa cultura”, diz ela. Seja pelos estilistas, artistas e personalidades que apresenta em seus trabalhos editoriais, seja pelo seu próprio estilo. “Ele é tão eclético quanto a nossa cultura! Adoro combinar, por exemplo, uma jaqueta Courrèges com um jeans desconstruído do meu amigo designer Carl Jan Cruz (uma das marcas mais incensadas de Manila).”
A mistura de peças de estilistas e artesãos locais com o prêt-à-porter de luxo é algo recorrente (e talvez a fórmula de sucesso) entre as funky girls locais. Elas fazem um mix and match carregado de identidade cultural e com muito apelo global. “Nossas marcas são muito versáteis, principalmente as mais regionais. É um ótimo complemento para a moda minimalista e low profle do momento”, conta a blogueira Jeanne Grey, autora do Grey Layers. “Hoje, gosto de mis- turar elementos masculinos e femininos, mas, como cresci cercada de tecidos nativos, como o abaca e o piña, feito da folha do abacaxi e um dos favoritos de minha mãe, que era estilista, carrego essa paixão pelos materiais orgânicos.”
A blogger Jeanne Grey (Instagram/Divulgação)
Engana-se quem acredita que esse movimento é restrito à moda. Christine Marie Ventura Bord, mais conhecida como DJ King Marie, fez da cultura flipina a base de seu trabalho musical e de seu estilo. “De forma geral, somos bastante arrumados no que diz respeito ao modo como nos vestimos, mas existe também toda uma cultura street ganhando força nas Filipinas e nas comunidades locais ao redor do mundo”, diz ela.
“Meu estilo, por exemplo, foi muito influenciado por marcas de streetwear da região, como a HLZBLZ, da Miss Lawn. Mesmo morando em Los Angeles atualmente, não me esqueço de onde vim. Essa é a beleza que nos faz tão diferentes e especiais. Saber e entender nossas raízes nos ajuda a ser mais nós mesmos.”