Nos tempos atuais falamos tanto em confecções de moda sustentável, que não podemos esquecer de incluir a moda praia nesse conceito mais ecológico. A primeira dúvida que surge, porém, é como um biquini pode ser ecológico? A resposta é simples, e da mesma maneira como acontecem com as roupas comuns que vestimos todos os dias, o diferencial está nos tecidos usados para a fabricação de maiôs e biquinis – também existem fatores como a mão de obra legalizada, e a origem da matéria-prima desses produtos para a conscientização ficar completa. Como sabemos, os tecidos usados em maiôs e biquinis são diferentes do algodão comum pois precisam ser mais resistentes à água e areia, além de precisarem do elastano para envolver o corpo.  E é essa a grande descoberta das marcas de moda praia que se adequaram à sustentabilidade.
Novos tipos de poliamida com fibras que se decompõem bem mais rápido estão no mercado, portanto mais uma vez, é só uma questão de escolha em relação aos biquinis que vamos usar daqui pra frente. Os valores não são muito diferentes dos maiôs e biquinis que já existiam antes dessa conscientização, e até o design das peças estão bastante modernos e não deixam desculpas para não usar.
Uma das marcas que se destacou dentro desse novo conceito de produção ecológica com design contemporâneo é a August, marca fundada em Nova York pela modelo Gabriela Rabelo, mas com a produção brasileira.
Conversamos com Gabriela recentemente, que nos ajudou a entender quais são os verdadeiros desafios de quem é um empreendedor de moda no Brasil e quer se ajustar aos novos métodos de sustentabilidade.
Petiscos: Qual é o maior desafio de produzir moda sustentável no Brasil?
Gabriela Rabelo: O maior desafio é a oferta da procura, de achar com facilidade materiais que são sustentáveis. Difícil achar matéria-prima com facilidade e com preços acessíveis no mercado. Por não ter procura, acaba sendo escasso e o preço muitas vezes mais alto, por isso muitas marcas optam por produtos que tem um acesso mais rápido e fácil.
P: Em que estágio dessa transformação na moda você acha que nós, brasileiros, estamos?
GR: Evoluindo, por conta do fácil acesso à internet, as pessoas e marcas acabam se comunicando mais diretamente sobre vários assuntos, incluindo esse. Acredito que o interesse sobre essa pauta só vai aumentar, nos tempos de hoje um assunto de extrema importância. Por morar em um país onde a nossa maior riqueza é meio ambiente, a necessidade do entendimento e cuidado com esse assunto é maior.
P: Qual é o diferencial (ou diferenças) da sua marca para as outras marcas industriais?
GR: Creio que os ideais, quando se tem uma marca você é mais um, por isso você tem que pensar em todas as maneiras de se comunicar, trazer produtos e detalhes que são não só originais como interessantes. A intenção da August desde o início era fazer um produto de extrema qualidade, mas com ideais focados como: matéria-prima Brasileira, mão de obra local e tecidos tecnologicamente desenvolvidos com consciência ambiental.
P: Qual a dificuldade de encontrar fornecedores para desenvolver o seu produto?
GR: Para encontrar produtos acaba sendo mais complicado, como não temos uma super produção, o mínimo dos fornecedores é alto. Porém, o quesito mão-de-obra fica ao nosso favor, pois o Brasil é rico nisso. Como nossa produçao é relativamente pequena, não exige uma fábrica gigante com muitos funcionários para desenvolver.
P: Como você lida com a concorrência de fast-fashion?
GR: O fast-fashion está cada vez mais presente, porém a qualidade dos produtos deixam a desejar. No caso da moda praia, um produto com baixa qualidade como o do fast-fashion acaba tendo bem menos durabilidade, pois tem contato direto com água e sol. Por isso, deve-se ter um cuidado maior tanto com tecidos como com aviamentos. Além da falta de qualidade, o maior problema são as condições que esses produtos são desenvolvidos, mão de obra desvalorizada e por conta do consumo extremo o desapego das peças viram um acumulo perigoso ao meio ambiente.
P: O que precisamos fazer para mudar nossa consciência em relação ao que consumimos?
GR: Acho que o dever e poder está na mídia de comunicar e trazer reportagens e abordar esse assunto com importância, sem isso fica difícil isso se tornar consciência geral. E quando já informadas, passar para frente, e se conscientizar.
P: Como você conclui o preço dos seus produtos?
GB: Temos que avaliar todos os procedimentos, aviamentos, tecidos, embalagens, funcionários, consultoria, mão-de-obra, todos esses quesitos entre outros são estudados para decidir o preço final.
P: Como é produzir roupa no Brasil? Você tem alguma experiência com produção de roupas fora do Brasil?
GR: O mercado industrial no Brasil é riquíssimo, em qualquer estado do país você encontra fornecedores, fábricas, mão-de-obra, matéria-prima. A única dificuldade que encontro é em relação à prazos para chegar ao produto final. Passa-se por muitos procedimentos, e acaba acontecendo de ter algum probleminha ou atraso.
Sobre experiências fora, morando em NY acabei pesquisando com muitas marcas de sucesso que produzem no México, Colômbia e China, e descobria que funcionava do mesmo jeito. Hoje não tenho o menor interesse de levar a produção para outro país, prefiro ter o controle de tudo perto de mim, além da comunicação ficar mais clara, estar próximo para checar controle de qualidade tem mais importância.
P: Quem é o seu público alvo, e o que você pode fazer para atingir um público cada vez maior?
GR: Meu público alvo são mulheres fortes e que curtem novidades, procurei um nicho na área dos biquinis, que são os biquinis mais minimalistas, moderninhos com toque de sofisticação e que sejam acessiveis. No inicio tínhamos dois mercados como foco: BR e Estados Unidos, fui testando para descobrir o que agradava, e a aceitação aqui no Brasil foi super forte.
A maneira que a August se comunica, a agilidade no atendimento personalizado, a qualidade das peças + produtos ecologicamente corretos vai fazer com que a cartela de clientes e admiradores da August aumente cada vez mais.
August possui um e-commerce próprio, com tabela de tamanhos para não errar as medidas.
Quem gostou da ideia também conta com a Emi Beachwear, outra marca de moda praia consciente fundada no Rio de Janeiro, focada no diferencial de estamparia e que também só trabalha com tecidos biodegradáveis. Na Emi você pode comprar as peças individuais, portanto a calcinha pode ser G e o sutiã de tamanho menor, ou se quiser, misturar as estampas.
Além da loja online, a Emi Beachwear é comercializada em lojas no Rio de Janeiro, Goiânia e Estados Unidos, mas a boa notícia é que a marca acabou de desembarcar por tempo limitado em um evento especial em São Paulo! A Feira na Rosenbaum em parceria com o coletivo Carandaí 25 vai rolar no Museu A Casa nos dias 25/10 à 29/10, das 11h às 20h.
Fotos: August, Emi Beachwear.
A praia vai ficar mais ecológica